Muitas Mãos: Antologia Literária

Ofereço graciosamente para vossa apreciação a versão digital final do livro que organizei com textos literários de vários alunos do Ensino Médio da Escola Autonomia. Se alguém preferir a versão em PDF “normal”, o link está aí embaixo também. A leitura de vocês é importante, com certeza, mas o feedback é a glória. Eles vão gostar de ouvir opiniões alheias.
Abraço!

936019_10152097969809905_1042747131_n

Link do PDF aqui.

Marize Castro – Uma mulher que se abre

Em prosa poética, Marize Castro explica o que
acontece quando uma mulher se abre.

Quando uma mulher se abre o que há de mais solitário se alarga. Espantalhos de dor se mostram e se decompõem. Flocos de agonia se aproximam. Crescem perdas. Voam conchas.
Uma mulher que se abre é uma mulher mergulhada em anáguas e sendas. Saltando sobre a luz. Deram-lhe lanças e um falso espelho para enganar as feridas.
Quebrada, ela conduz corações ao túmulo. Esperando que uma nova morte traga-lhe nova grinalda e novo véu.
Em surdina, uma mulher que se abre deseja o esquecimento e a maternidade. Quer parir, dormir, trepar. Morte à memória!
– O mundo não corrompe quem habita os subterrâneos.
Disse-lhe um livro com o sol no ventre.
O extravio de uma mulher que se abre é um deslumbre. Uma significação doce e mórbida. Possui a beleza e está carregado de hóstias e sepulturas.
Moças e rapazes, caindo em abismos, sustentam essa mulher aberta. Beijam-lhe o útero exposto.
Afogado em seus cabelos, ela se arqueia na esperança que o amor, quando novamente acontecer, não traga algemas.
Uma mulher que se abre é pedra, cratera, rio, relíquia.
Traz na língua o perdão e suas chamas.

Fonte: Diário de Natal; edição de 18 de julho de 1999.