Poesia Romântica: Gonçalves Dias, Cazuza e a galëre

Como estamos entrando no fofíssimo [mas meio obscuro] universo da poesia romântica, resolvi compartilhar algum material que encontrei pela web. O primeiro deles é um poema de Gonçalves Dias, chamado “Sei amar“, que postei no antro do Fofurismo contemporâneo: o Tumblr. Confere aqui neste link. Apesar de uma e outra palavrinha difícil, fica claro que ele é capaz de se entregar de corpo e alma a seu amor, mas não está nem um pouco a fim de sociedade: se a mina é minha, irmão… é só minha, tá ligado? É, os caras eram exagerados, mas não bobos.

Falando em exageros, um famoso cantor e compositor brasileiro da década de 1980 escreveu uma letra que é uma bela síntese de alguns aspectos do Romantismo. Trata-se de “Exagerado“, do Cazuza. Atente para estes versos:

Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar

E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

É praticamente um “meldels amike vol si joga pofavo oline p min estol dzesperaod ahhhh”, né? Então… ouve aqui a música já com a letra.

vol si joga

É claro que há coisas talvez mais exageradas e sem dúvidas muito mais dramáticas. Um exemplo sublime disso é “Ainda Uma Vez, Adeus“, também do Gonçalves Dias. Tranque a porta do quarto, coloque um som de fundo para disfarçar e leia em voz alta, como se fosse a última leitura da tua existência. Vai por mim, é uma experiência e tanto.

Havia também a moçada que adorava uma indiazinha era mais ligada ao indigenismo (como o Gonçalves Dias; basta ler um trecho de I-Juca Pirama pra sentir a vibe)e às ideias abolicionistas. O baiano Castro Alves era dessa galëre, e “Navio Negreiro” (abaixo lido por Paulo Autran) é um dos poemas mais importantes dessa vertente:

E aqui a versão musicada por Caetano Veloso com participação de Maria Bethânia:

A importância do “Poeta dos escravos” foi reconhecido mesmo fora de nossas fronteiras. O poeta chileno Pablo Neruda [que escreveu alguns dos mais belos versos da poesia contemporânea (basta ler o poema 20 de seu livro “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada“)] dedicou um dos poemas de seu épico “Canto Geral” [Canto general, em espanhol] a ele. É o canto XXIX do livro e se chama “Castro Alves del Brasil” . O poeta brasileiro foi um dos grandes representantes da chamada geração condoreira [em referência à maior ave andina, o condor, um símbolo de liberdade].

Para finalizar este post super eclético, um vídeo com trechos recitados de poemas de dois documentários (“Exile on Fame Street” e “Essential Byron”) e de um filme (“Byron”). A junção do texto [o áudio é o original em inglês, com legendas em português] e das imagens dos filmes cria uma experiência bem interessante para o leitor/ouvinte/espectador.

Espero que gostem!

3 comentários em “Poesia Romântica: Gonçalves Dias, Cazuza e a galëre

  1. Ah, profe, fala do Fagundes Varela, vai! Na minha época fiz até uma apresentaçãozinha power point pra aula! (na época que apresentação power point não era tão odiada!).

    E achei bom não citar o verso “por você eu largo tudo, carreira, dinheiro, canudo”, do Cazuza, para a meninada do ensino médio com um pé na paranóia do vestibular, né? Não dá idéia!

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    1. Fagundes Varela tá sempre na ponta da língua [acho que já falamos disso no PET uma vez]!
      Quanto ao Cazuza, se eles não entenderam que ser exagerado não é útil quando não se é artista filho de classe média do Rio, aí tem que zerar no vestiba mesmo! hahahaha

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  2. Adoro ler. Sou, como escreveu Neruda em Confesso que Vivi-( Sou onívoro de sentimentos, palavras e homens: comeria toda terra, beberia todo mar) leio prosa: vou de Graciliano a Sartre, de Gorki a Kafka sem perder o rumo do prazer da leitura, mas quando se fala de poesia, aí me deixo levar pela poesia libertária de Castro Alves; sinto-me encantada pela imortalidade de I-Juca Pirama; sorrio sentindo-me terra chão em Manoel de Barros; sou visceral em Ferreira Goulart; crio e recrio um mundo pasargadiano deBandeira; sou Cecília passeando pelo Romanceiro da Inconfidência,na Minas dos pastores poetas. Não sei a vida sem livros. ” O livro, esse audaz guerreiro, que conhece o mundo inteiro sem nunca ter Waterlo”.

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